O Jogo da Morte




- Então, se eu ganhar… eu posso voltar, e você me deixará em paz.
- Por enquanto, sim.
- Como eu sei se você não está mentindo?
A figura encapuzada suspirou. Lidar com mortais demandava muita paciência.
- Você não tem como saber. Mas não é como se houvesse escolha.
A garota tremeu diante daquelas palavras.
- Vai querer jogar, ou não? - perguntou a Morte.
Um momento de indecisão, e a resposta foi dada em um sussurro.
- Sim.

De dentro de sua capa, a Morte retirou um maço de cartas de aspecto envelhecido. A parte de trás de cada uma continha o desenho de uma caveira cujos olhos, embora nada mais que buracos negros, pareciam fitar a garota do outro lado da mesa. Lentamente, aqueles dedos ressecados que mais se assemelhavam a garras puxaram uma das cartas e a mostraram. Tratava-se de uma réplica diminuta de uma foto da menina com a família.
- As regras são simples.
A carta foi depositada sobre a mesa de cabeça para baixo. A Morte, então, puxou mais duas do monte e novamente as ergueu. O que se seguiu foi uma espécie de ganido de medo, emitido pela única humana daquele lugar ao contemplar duas imagens suas, com o rosto ensangüentado e o corpo repousando sobre um caixão.
Morta.
- Você já deve conhecer esse jogo. É um dos meus favoritos. Sabe porquê? – continuou a ceifadora enquanto repetia o processo feito com a primeira carta – Porque é imprevisível. Eu morro de curiosidade de saber como cada partida terminará!
Ela soltou uma risada diante de seu... senso de humor. A garota se sentia gelada, seus olhos fixos em qualquer lugar menos na figura que ria à sua frente. Um grito estrangulado tentava sair por sua garganta, mas era sufocado. A única coisa que a mantinha sã era a pequena esperança de ganhar e retornar à sua vida.
A Morte voltou à explicação.
- Há três cartas alinhadas nesta mesa. Sua tarefa é simples: irei misturá-las, e você deve escolher entre elas. Somente uma – acredito que saiba qual é – representa sua chance de se livrar de mim. Caso não a escolha, te levo comigo. Você terá treze segundos para decidir. Entendeu tudo?
- Entendi.
Era tão simples. A garota fixou os olhos na carta central, a que ela sabia conter a foto de sua família. Bastava acompanhar seu movimento, assim saberia em qual lugar terminaria. A pontinha de esperança em seu peito pareceu crescer um pouco mais.
A Morte, por baixo de seu capuz, sorriu, e começou a mexer as cartas.
Nos segundos iniciais, a menina chegou até a esboçar um sorriso – seria fácil demais! Poderia até fingir alguns instantes de dúvida antes de anunciar sua decisão, assim a Morte pensaria que não passava de pura sorte. Sua salvação estava bem ali, naquela pequena caveira de olhos negros extremamente... profundos e... hipnotizantes...
As imagens gravadas no centro das cartas pareceram tomar vida e saltar do papel. Uma luz avermelhada surgiu em seus globos oculares, ficando cada vez mais intensa, fazendo a visão da garota se embaçar. Os ouvidos dela foram tomados por gritos de agonia misturados a risadas delirantes.
Quando já acreditava que sua cabeça iria explodir, tudo sumiu. As caveiras voltaram a ser nada além de gravuras, e os únicos sons que podia ouvir eram sua respiração ofegante e as batidas aceleradas de seu coração. As garras da Morte cessaram seu movimento, e as cartas retomaram a sua posição de alinhamento no centro da mesa.
- O tempo acabou. Escolha.
Não sabia qual era a certa. A garota sentiu o pânico surgindo, o medo e a ansiedade ameaçaram tomar conta de seu corpo enquanto ela encarava as opções à sua frente e não conseguia decidir.
- Escolha. – repetiu a Morte, sua voz dessa vez mais áspera.
Com uma mão trêmula, a carta da direita foi apontada. Lágrimas caíam sobre a mesa enquanto as garras se estendiam e agarravam o pedaço de papel, para então virá-lo lentamente.
E revelar a imagem de um cadáver.
- Parece que você perdeu.
O grito que lutava para sair desde o começo daquele encontro ecoou pelo lugar, ao mesmo tempo em que a garota se levantava e tentava se afastar da mesa, tropeçando após alguns poucos passos. A risada da Morte voltou a ecoar enquanto ela se aproximava de sua vítima.
- Talvez o jogo não seja tão imprevisível assim. Afinal... eu sempre ganho!






Pegou as fotos nas mãos.
Através das imagens, reviveu cada momento, relembrou cada risada, cada conversa e cada brincadeira. Recordou-se das amizades, das pessoas que por pouco tempo ocuparam um espaço na sua vida, porém por tempo o suficiente para tornarem-se especiais.
Depois de tudo, só restou a saudade, a vontade de voltar e fazer tudo de novo. E as lembranças,
aquelas que duram para sempre, gravadas nas fotos em suas mãos e na memória de cada um.



Quem escreve

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Thais Pampado. 20 anos. Escritora e estudante de Produção Editorial. Apaixonada por livros e por escrever. Lê praticamente qualquer gênero, mas tem uma paixão especial por fantasia e YA.
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